Anomalia tupiniquim

Posted: domingo, 18 de novembro de 2012 by Crítico in
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Cada grande cidade brasileira representa um coração que, a partir de suas artérias, presentes em forma de ruas, avenidas e estradas, bombeia automóveis como células automobilísticas. Essas, quando em excesso - o que é um fato constante no Brasil -, possibilitam a criação do tumor que se instaura em boa parte das principais metrópoles tupiniquins. O problema se tornou mais latente, desde o governo JK, as facilidades de se adquirir um meio de transporte auxiliaram as pessoas a conquistar meios de locomoção privada e, assim, fomentou, ainda mais, a desvalorização dos coletivos. A vida nas cidades brasileiras de maior destaque tem se tornado um caos para a população, visto que o número de automóveis – privados e coletivos – aumenta ano após ano. O governo JK, com a meta de crescimento econômico de “50 anos em 5”, possibilitou a aquisição de transportes particulares. Porém, as veias e artérias não seguiram o progresso previsto pelo presidente, já que o foco, nessa época, era a entrada das multinacionais no país. Dessa forma, observa-se o entupimento de ruas que refletem diretamente à vida do povo, na medida em que uma boa parcela de brasileiros desperdiça horas em deslocamento para suas atividades laborais. Então, o que se pode notar, em parte das referências metropolitanas nacionais, são os inúmeros engarrafamentos, motivados pelo acúmulo de células, acelerando o tumor nos corações brasileiros. Outro ponto a ser destacado é a questão da desvalorização do transporte coletivo. Parte da população utiliza esse meio para se deslocar, porém, a ausência de qualificação nas células de massa evidencia a falta de investimentos nesse setor. Ônibus, trens e metrôs lotados são imagens diariamente observadas pelo povo brasileiro, que se submete às baixas qualidades locomotivas para alcançar seu destino. Em conseqüência disso, o cansaço atinge a população que, por muitas vezes, chega indisposta para as suas atividades diárias. Percebe-se, então, que a precariedade dos meios de locomoção tupiniquins, principalmente nas grandes cidades nacionais, carece de um olhar mais cuidadoso, visto que existe uma referência direta entre o cidadão e o transporte. Aquele necessita desse, como o coração precisa de sangue em suas veias e artérias. Para evitar, portanto, que o tumor se alastre nos corações brasileiros, é necessário uma união entre a Secretaria Municipal de Transporte e Urbanismo em busca de métodos e planejamentos para a redução dessa doença. Entre as possibilidades estão o investimento em malhas ferroviárias, reestruturação dos ônibus – buscando conforto e segurança – e o barateamento das passagens dos meios celulares de massa. Assim, é possível que o cidadão deixe sua célula particular em casa, contribuindo, logo, para a desobstrução das veias que conduzem a circulação ao coração nacional.

Reflexões sobre "Os Lusíadas"

Posted: sábado, 30 de julho de 2011 by Crítico in
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Sou simplesmente apaixonado por essa obra. Apesar de não ser minha especialidade, resolvi fazer algumas reflexões.

A princípio, devemos saber que Os Lusíadas é uma obra cujo o projeto é marcadamente renascentista, pois reflete os ideiais característicos deste movimento ideológico, científico, literário e político.

O recurso que Camões busca na mitologia clássica não poderia deixar de se apresentar, visto que a obra se inspira no modelo clássico da Eneida. Porém, diferentemente desta, em Os Lusíadas não são os deuses que determinam a história dos heróis, suas imagens, por vezes, são apenas alegóricas. Na obra, tem-se o reflexo do entusiasmo renascentista pelos instintos que impusionam o destino dos homens, de mostrar a vitória do homem, que começou a aprender a dominar o planeta.

A respeito da figura de Adamastor:

Surge a figura de Adamastor para ilustrar esse orgulho humano renascentista de romper os limites que até então lhe eram impostos "os veados términos quebrantas/ E navegar meus longos mares ousas" (canto V, P. 140)

Devemos saber até aqui, que a viagem de Vasco da Gama, na obra, concretiza o projeto expansionista português de propagação da fé cristã. Fato este que acaba por ser condenado pelo velho Resteo (que fala com eco da voz camoniana). Ele maldiz todo o projeto marítimo "- Ó glória de mandar, ó vã cobiça/ Desta vaidade a quem chamamos fama!/Ó fraudento gosto, que se atiça." (Canto IV, P. 126). Apesar da obra ressaltar "o peito lusitano", os ideia sexpansionistas, Camões sob a voz do velho Resteo contesta e questiona a ambição da viagem de Vasco da Gama.

O que gostaria de explicar, a partir dos parágrafos anteriores, é a questão da expansão que se mistura à mitologia, para enfim chegar ao conhecimento do Cabo da boa esperança, lugar este que deveria ser cruzado pelos portugueses para chegar às Índias. O ideal expansionista se choca ao mitológico a partir do momento em que surge o desconhecido. - Adamastor. O caminho para chegar às riquezas da terra desconhecida, só poderia ser guardado por uma figura mitológica, e também desconhecida, que causa medo. Adamastor é a personificação do Cabo da boa esperança ( ou tormenta), ele é a vingança da natureza contra os portugueses, sobr a forma dos medos que os marinheiros tinham de monstros tenebrosos. Estes seres simbolizavam o desconhecido, o fantástico, e por eles só passariam os mais merecedores (que não existiram antes dos lusitanos). "Pois vens ver os segredos escondidos.../ a nenhum grande humano concedidos." (Canto V, p. 140)

A partir do parágrafo anterior, pode-se remeter ao ideal renascentista, em que o homem supera seus medos do desconhecido, e se posta como o centro do universo. Quando Adamastor conta sua história, ele se humaniza. Logo, quando o medo (mito) se desfaz, aquilo que causava medo ( o desocnhecido) acaba para os portugueses. O mundo se revela, e a possibilidade de cruzar o Cabo se concretiza. Nota-se aqui o projeto humanista: A SUPERAÇÃO.

São nas contradições que se constrói a obra camoniana, é o ideal português de expansão, a que Camões sob outras vozes critica e maldiz. É da presença de não só um herói (homem apenas), mas de um herói coletivo "as armas e os barões assinalados" (canto I, p. 11) que partiram à descoberta do mar desconhecido. São "as memórias gloriosas" dos reis que "foram dilatando a fé e o Império". Assim, é todo o povo português e seus antepassados, que se tornaram símbolo da glória do domínio do homem sobre a natureza. O orgulho humano e nacional vencem os medos de antigamente e dominam o mar.

Poesia de luto

Posted: sábado, 14 de agosto de 2010 by Crítico in
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A ladra

Tão repentinamente,
A luz se apagou.
Sem hora marcada,
Ela veio,
Silenciosa e traiçoeira,
Nos roubou.
Egoísta, ahh...
Tão egoísta,
A senhora do vestido preto,
Quis única e exclusivamente para si.
Talvez, queira prosear
Como quem não quer nada.
Talvez, ela queira nos castigar
Apagando nossa luz.
Silenciosa e traiçoeira,
Nos roubou.
Nem ao menos permitiu a seus filhos
O breve e amargo adeus.

Guilherme Chaves

Poesia de luto - Saramago

Estar ilhado e ser ilhado: a condição do poeta que oscila na dúvida de cruzar ou não o espaço da angústia.-q

Posted: segunda-feira, 5 de julho de 2010 by Crítico in
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Quando penso em literatura cabo-verdiana sou diretamente direcionado à situação existencial dos islenos. O espaço ocupado pela população (o arquipélago) é o carro-chefe para essa literatura “mareadamente nostálgica”. O mar e a ilha, bem como as angústias de um poeta preso a sua realidade são as bases que impulsionam a literatura nesse espaço africano. E esse espaço faz com que o poeta crie uma relação de amor e ódio com a ilha. E assim se faz uma literatura tão complexa em termos de relações paradigmáticas paradoxais.

O poeta-ilhéu escreve sobre o conflito de estar preso à uma condição nostálgica, e o mar se torna sua grande prisão. Porém, humildemente, não concordo inteiramente com a imagem do mar como esse grande cárcere, mas sim, a ilha como sendo o verdadeiro cárcere do poeta. Penso em instâncias: o mar se faz a prisão da ilha, e esta a prisão do poeta. Mas acredito que o mar é a única saída para o escritor, ele é a prisão da ilha e a liberdade do poeta. A ilha aprisionada ao mar, aprisiona o ilhéu. Utilizo essas imagens de aprisionamento para pensar na colonização, o mais forte coloniza o mais fraco, se o mar coloniza a ilha, a ilha coloniza o ilhéu.

Resta ao poeta escrever sobre esse espaço que tanto o inquieta, apesar de não concordar totalmente que o mar seja a prisão, entendemos que pode ser de fato para o poeta, e que o mar é o causador da angústia do ilhéu. Mas se ele aprisiona, também é a saída, e assim, noto a grande relação paradoxal que constrói essa imagem tão ambígua diante dos olhos de quem vive “ilhado”. E essa condição de transposição é o conflito do poeta “querer ficar” e “ter que partir” e vice versa, pois cruzar o mar é tentar algo novo, se aventurar, buscar uma vida melhor, em contrapartida, é o mesmo que deixar sua identidade, sua “pátria”, um pedaço de sua vida para trás. É essa impossibilidade de escolha que vai agravar a condição de existência. Reflito a questão do “estar ilhado” e me fixo ao verbo estar, é engraçado, pois o próprio verbo é uma condição estática, de permanência, relacionado a uma condição de ser. O poeta não só está ilhado, como ele também é ilhado, ele é ambíguo, ele é nostálgico, essa é a condição existencial dele, condição essa que vai agravar afetivamente a relação ilha x ilhéu. O escritor nutre uma relação, novamente paradoxal, de amor x ódio, os sentimentos se misturam, pois ao tempo que se quer sair da ilha tão parada, tão estática, acaba saindo, também, de sua identidade, de seu eu-existencial. E por toda essa fusão nostálgica situacional de ser/estar, somada à necessidade de partir/retornar, a literatura cabo-verdiana ganha impulso para tão expressiva e profunda cultura africana.

"X" da questão

- SALÚSTIO, Dina. Insularidade na Literatura Cabo-Verdiana. In: VEIGA, Manuel (Coord.). Cabo Verde: insularidade e literatura. Paris: Karthala, 1998.

O triste fim do otimista Rousseau - q

Posted: quarta-feira, 9 de junho de 2010 by Crítico in
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Abrir uma discussão a respeito da desigualdade social requer uma busca por fatores históricos e político-sociais, além de correlacionar os dois elementos supracitados.

No que concerne o teor histórico da sociedade, é necessário fazer um retrocesso ao século XVIII. Momento este de divergências ideológicas. Nessa época, existiam duas correntes filosóficas: uma guiada pela razão e outra pela emoção. A primeira, que teve como influenciador Voltaire, diretamente ligada ao trabalho, ao capitalismo e as questões urbanas, causando um distanciamento das relações humanas. Esta corrente deixava de lado a parte mais sentimental do homem, e o que prevalecia era o lucro a qualquer preço. A segunda ideologia se ligava aos sentimentos, a relação do homem com o próprio ser e com a natureza. Prevalecendo o humanismo, a igualdade. Tem-se como impulsionador desta filosofia, Rousseau, pensador, também do século XVIII, que chega a propor um “Contrato Social”, no qual o amor entre o subordinador e o subordinado era a solução para que não houvesse distanciamento do ser humano mutuamente.

Concluindo a correlação entre essas ideologias, infelizmente, deve-se dizer que prevaleceu a filosofia “Volteriana”. Isso levou a uma valorização das relações capitais, o mais rico, torna-se cada vez mais rico, e o pobre, cada vez mais pobre. Fato que vai criar uma enorme ruptura sócio-cultural entre essas duas camadas sociais que se formam.

Analisando os fatores históricos da sociedade descritos ao longo desta discussão. Tem-se que a ideologia de Voltaire só fez crescer uma “bola de neve”. Ou seja, os valores empregados e aderidos às questões políticas, aumentaram ainda mais essa barreira que se forma entre a população e as relações humanas. Isto tudo se reflete na política e na sociedade dos dias atuais, pois até hoje, o capitalismo “aniquilador” separa a sociedade de forma analítica: o rico e o pobre, o branco e o negro, o heterossexual e o homossexual, e até mesmo o homem e a mulher. Os valores se divergem e os seres racionais (de uma forma não generalizada), tendem a uma vida burguesa e preconceituosa, não dando espaço ao “Contrato Social” proposto por Rousseau.

Apesar de todos os males, é possível uma solução: uma política de investimentos internos, uma melhoria na base educacional, bem como investimentos para esta. São formas de minimizar as desigualdades sociais dos dias atuais. Uma criança educada e instruída, provavelmente, não vai roubar, não vai se ligar a uma vida vadia, não vai viver de preconceitos, não vai discriminar. Uma criança educada pode vir a ser um “Contratante da Social”. Pode até parecer clichê, mas a base de uma estrutura “sócio-humanitária” é a criança bem instruída. Porém, para que os recursos “transpareçam”, necessita-se de uma base séria de investimentos, e não a maquiagem econômica que se vê toda vez que a televisão é ligada.

Rousseau, o pensador do século XVIII, enxergou uma população do século XXI. Triste, notamos que seus esforços foram em vão, pois em sua época, ele já dizia “Se as coisas não mudarem, o futuro será desastroso”.

Brasingola - q

Posted: sábado, 29 de maio de 2010 by Crítico in
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Eu estava escrevendo uma resenha para aula de Literatura Africana, e me surpreendi muito emocionado em ver o quanto a nossa literatura (brasileira) influenciou a geração de 50 angolana. Não gosto de entender literatura como um conjunto de características, mas é possível notar muita semelhança. De Fato, a Literatura Brasileira, mais especificamente o Modernismo, tem ligação direta com os movimentos de libertação de Angola. O poeta angolano Viriato da Cruz lança um grito de “Vamos descobrir a Angola”, ele busca a liberdade da forma, da linguagem formal, o poeta almeja destruir as barreiras de uma língua oficializada, propondo uma nova literatura que fosse de fato angolana. Uma “caçada” pela identidade do povo, uma proposta de inclusão do folclore e da literatura popular. O desejo de Viriato da Cruz apresenta alguns, vejam bem, caros leitores, eu digo alguns paradigmas que consigo observar no Modernismo brasileiro. Li por esses dias o “Manifesto Pau Brasil” de Oswald de Andrade. O poeta quer romper com todo aquele cânone romântico, parnasiano e simbolista. Ele propõe uma literatura voltada para massa, que seja “a cara do povo”. Assim como Oswald de Andrade, entre outros e Viriato da Cruz recusam o estereótipo da tradição da poesia. O primeiro buscando o eu-brasileiro, o segundo, o eu-angolano.

Essa geração de 50 é ainda dividida em dois momentos. O primeiro, em que os poetas notam a alienação do povo angolano. E um segundo momento em que os poetas vão se preocupar em conscientizar essa população tão “afastada” de forma política e social.

Após o fechamento da revista Mensagem, os poetas percebem que sua crítica está sendo ouvida, e isso, de certa forma, acaba instigando ainda mais esse espírito de luta, de conquista da identidade, e logo vai aparecer a nova revista Cultura II. E mais uma vez, noto nossa literatura presente. Talvez seja uma viagem de minha parte, mas acredito que a Semana de 22 foi um ponto de inspiração para abertura dessas revistas, assim como os poetas da geração de 50 sofreram duras críticas por conta dessa nova literatura, nossos artistas, em geral do Modernismo brasileiro, também sofreram com a nova postura por eles adotada. Como sabemos, Anita Malfatti foi vaiada por sua pintura de estética revolucionária, e Mário de Andrade foi recebido com ceticismo quando apresentou um esboço do que viria a ser seu ensaio A Escrava que não é Isaura.

Os leitores devem estar se questionando o porquê dessa publicação. Pois bem, estou aqui para sanar as dúvidas. Acontece que estamos num período de Copa do Mundo, por isso estou um pouco mais sensível para essas situações nacionais, e também por acreditar muito no valor do meu país, e as coisas boas, mesmo que indiretamente, que ele pode proporcionar para outros povos. Quando vejo Angola, vejo Brasil, sou motivado pela determinação da população das duas nações. Por isso, agradeço imensamente esses grandes artistas do Modernismo brasileiro, e uma parabéns aos poetas da geração de 50 de Angola, pela coragem de lutar pelo povo, de buscar uma verdadeira identidade para rostos tão perdidos...

“Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis.”
Manuel Bandeira

Att,
“X” da questão.

Poesia - q

Posted: quinta-feira, 27 de maio de 2010 by Crítico in
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O aborto

Uma vida ficou para trás.
Deslizando pelos corredores sombrios,
a porta se fechou voraz.
Voando pelas escadas,
sentindo a vermelhidão escorrendo pelas pernas.
Não adiantava mais fugir!
Era o último gosto provado,
das barras de ferro grudadas ao rosto,
colocando o par de pulseiras frias,
dentro do cubículo de quatro rodas,
para o lugar de onde jamais sairia.

"x" da questão