Brasingola - q

Posted: sábado, 29 de maio de 2010 by Crítico in
1

Eu estava escrevendo uma resenha para aula de Literatura Africana, e me surpreendi muito emocionado em ver o quanto a nossa literatura (brasileira) influenciou a geração de 50 angolana. Não gosto de entender literatura como um conjunto de características, mas é possível notar muita semelhança. De Fato, a Literatura Brasileira, mais especificamente o Modernismo, tem ligação direta com os movimentos de libertação de Angola. O poeta angolano Viriato da Cruz lança um grito de “Vamos descobrir a Angola”, ele busca a liberdade da forma, da linguagem formal, o poeta almeja destruir as barreiras de uma língua oficializada, propondo uma nova literatura que fosse de fato angolana. Uma “caçada” pela identidade do povo, uma proposta de inclusão do folclore e da literatura popular. O desejo de Viriato da Cruz apresenta alguns, vejam bem, caros leitores, eu digo alguns paradigmas que consigo observar no Modernismo brasileiro. Li por esses dias o “Manifesto Pau Brasil” de Oswald de Andrade. O poeta quer romper com todo aquele cânone romântico, parnasiano e simbolista. Ele propõe uma literatura voltada para massa, que seja “a cara do povo”. Assim como Oswald de Andrade, entre outros e Viriato da Cruz recusam o estereótipo da tradição da poesia. O primeiro buscando o eu-brasileiro, o segundo, o eu-angolano.

Essa geração de 50 é ainda dividida em dois momentos. O primeiro, em que os poetas notam a alienação do povo angolano. E um segundo momento em que os poetas vão se preocupar em conscientizar essa população tão “afastada” de forma política e social.

Após o fechamento da revista Mensagem, os poetas percebem que sua crítica está sendo ouvida, e isso, de certa forma, acaba instigando ainda mais esse espírito de luta, de conquista da identidade, e logo vai aparecer a nova revista Cultura II. E mais uma vez, noto nossa literatura presente. Talvez seja uma viagem de minha parte, mas acredito que a Semana de 22 foi um ponto de inspiração para abertura dessas revistas, assim como os poetas da geração de 50 sofreram duras críticas por conta dessa nova literatura, nossos artistas, em geral do Modernismo brasileiro, também sofreram com a nova postura por eles adotada. Como sabemos, Anita Malfatti foi vaiada por sua pintura de estética revolucionária, e Mário de Andrade foi recebido com ceticismo quando apresentou um esboço do que viria a ser seu ensaio A Escrava que não é Isaura.

Os leitores devem estar se questionando o porquê dessa publicação. Pois bem, estou aqui para sanar as dúvidas. Acontece que estamos num período de Copa do Mundo, por isso estou um pouco mais sensível para essas situações nacionais, e também por acreditar muito no valor do meu país, e as coisas boas, mesmo que indiretamente, que ele pode proporcionar para outros povos. Quando vejo Angola, vejo Brasil, sou motivado pela determinação da população das duas nações. Por isso, agradeço imensamente esses grandes artistas do Modernismo brasileiro, e uma parabéns aos poetas da geração de 50 de Angola, pela coragem de lutar pelo povo, de buscar uma verdadeira identidade para rostos tão perdidos...

“Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis.”
Manuel Bandeira

Att,
“X” da questão.

1 comentários:

  1. Cara, eu sou apaixonada pela geração de 50! Eles sao fodas!
    E tipow, eu adorei a iniciativa deles de partir mesmo pra educação no movimento de guerrilha, eles iam alfabetizando geral em plena guerra!
    E é muito visível a influencia d Brasil pra eles, inclusive hoje em dia. O Brasil pra elees é uma colônia portuguesa que deu certo, é o que eles almejam, saca? Eles tem a língua em comum conosco e não tem o ódio que os anos de colonialismo geral com relação a Portugal. Entao é a nossa cultura mesmo que influencia varias vezes.
    Eu acho bárbaro esse resgate angolano da língua kimbundo e a maneira como eles tratam as tradições, oralidade e bla bla bla. Tenho MUITA vontade de ir pra África, conhecer de perto tudo isso.

    Mas o que eu curto mesmo da literatura Africana nem são as poesias especificamente, são os contos e os romances! São LINDOS!!!
    O mundo precisa conhecer tudo isso!

    Quanto aos Modernistas Brasileiros e ainda a Geraçao de 50, quando penso neles me dá uma vontade de ter nascido em outra época, de ter vivido esse momento, participado de perto! Me dá uma vontade de ser "gente grande" de verdade como eles foram!