Reflexões sobre "Os Lusíadas"

Posted: sábado, 30 de julho de 2011 by Crítico in
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Sou simplesmente apaixonado por essa obra. Apesar de não ser minha especialidade, resolvi fazer algumas reflexões.

A princípio, devemos saber que Os Lusíadas é uma obra cujo o projeto é marcadamente renascentista, pois reflete os ideiais característicos deste movimento ideológico, científico, literário e político.

O recurso que Camões busca na mitologia clássica não poderia deixar de se apresentar, visto que a obra se inspira no modelo clássico da Eneida. Porém, diferentemente desta, em Os Lusíadas não são os deuses que determinam a história dos heróis, suas imagens, por vezes, são apenas alegóricas. Na obra, tem-se o reflexo do entusiasmo renascentista pelos instintos que impusionam o destino dos homens, de mostrar a vitória do homem, que começou a aprender a dominar o planeta.

A respeito da figura de Adamastor:

Surge a figura de Adamastor para ilustrar esse orgulho humano renascentista de romper os limites que até então lhe eram impostos "os veados términos quebrantas/ E navegar meus longos mares ousas" (canto V, P. 140)

Devemos saber até aqui, que a viagem de Vasco da Gama, na obra, concretiza o projeto expansionista português de propagação da fé cristã. Fato este que acaba por ser condenado pelo velho Resteo (que fala com eco da voz camoniana). Ele maldiz todo o projeto marítimo "- Ó glória de mandar, ó vã cobiça/ Desta vaidade a quem chamamos fama!/Ó fraudento gosto, que se atiça." (Canto IV, P. 126). Apesar da obra ressaltar "o peito lusitano", os ideia sexpansionistas, Camões sob a voz do velho Resteo contesta e questiona a ambição da viagem de Vasco da Gama.

O que gostaria de explicar, a partir dos parágrafos anteriores, é a questão da expansão que se mistura à mitologia, para enfim chegar ao conhecimento do Cabo da boa esperança, lugar este que deveria ser cruzado pelos portugueses para chegar às Índias. O ideal expansionista se choca ao mitológico a partir do momento em que surge o desconhecido. - Adamastor. O caminho para chegar às riquezas da terra desconhecida, só poderia ser guardado por uma figura mitológica, e também desconhecida, que causa medo. Adamastor é a personificação do Cabo da boa esperança ( ou tormenta), ele é a vingança da natureza contra os portugueses, sobr a forma dos medos que os marinheiros tinham de monstros tenebrosos. Estes seres simbolizavam o desconhecido, o fantástico, e por eles só passariam os mais merecedores (que não existiram antes dos lusitanos). "Pois vens ver os segredos escondidos.../ a nenhum grande humano concedidos." (Canto V, p. 140)

A partir do parágrafo anterior, pode-se remeter ao ideal renascentista, em que o homem supera seus medos do desconhecido, e se posta como o centro do universo. Quando Adamastor conta sua história, ele se humaniza. Logo, quando o medo (mito) se desfaz, aquilo que causava medo ( o desocnhecido) acaba para os portugueses. O mundo se revela, e a possibilidade de cruzar o Cabo se concretiza. Nota-se aqui o projeto humanista: A SUPERAÇÃO.

São nas contradições que se constrói a obra camoniana, é o ideal português de expansão, a que Camões sob outras vozes critica e maldiz. É da presença de não só um herói (homem apenas), mas de um herói coletivo "as armas e os barões assinalados" (canto I, p. 11) que partiram à descoberta do mar desconhecido. São "as memórias gloriosas" dos reis que "foram dilatando a fé e o Império". Assim, é todo o povo português e seus antepassados, que se tornaram símbolo da glória do domínio do homem sobre a natureza. O orgulho humano e nacional vencem os medos de antigamente e dominam o mar.

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